sexta-feira, 3 de julho de 2009

LIÇÃO 1 – A Primeira Carta de João

A autoria da epístola em estudo é atribuída ao apóstolo João pela longa tradição da igreja, mas existem outras evidências que confirmam e, em alguns casos, até excedem a exatidão dessa tradição. Isso é o que veremos no estudo desta carta universal, no início de mais um novo trimestre. Serão abordados também o entendimento e o conhecimento sobre o autor e a carta, bem como seu propósito.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE (1Jo 1.1-4)

O autor da epístola começa com um relato ou natureza da pessoa do Mediador. Ele é o grande tema do evangelho, o fundamento e objeto de nossa fé e esperança, o elo que nos une a Deus. Ele deveria ser bem conhecido.

“O que era desde o princípio...” (v.1). Pa­rece evidente que o apóstolo fala da eternidade dEle, como desde o princípio, pelo fato de ele falar do Cristo como era no princípio e desde o princípio; quando estava com o Pai, antes da sua manifestação a nós, antes da cri­ação de todas as coisas (como em Jo 1.2,3).

OBS.: “...o que ouvimos...”. Essa parte do versículo não está na versão da Bíblia Revista e Corrigida, que geralmente se usa na Leitura Bíblica em Classe. Desconheço o motivo do acréscimo, mas aproveito para mostrar que na versão da Bíblia Revista e Atualizada, encontramos assim: “...o que temos ouvido...”. Portanto, com as evidências e certezas convincentes que os apóstolos e seus irmãos tinham da presença e da convivência do Mediador neste mundo, a Vida (que é Jesus) foi revestida de carne, colocada no estado e forma da natureza humana e, como tal, forneceu prova sensível de sua existên­cia e operações aqui. A vida divina, ou Palavra encarnada (Jo 1.1,14), se apresentou e se evidenciou aos sentidos dos apóstolos. Os quais não apenas ouviram a respeito dele, mas o ouviram pessoalmente. Por mais de três anos eles puderam presenciar seu ministério, ser ouvintes de seus sermões públicos e exposições priva­das e ficar encantados com as palavras daquele que falou como nenhum outro homem falou antes ou desde então (Jo 7.46).

“...o que vimos com os nossos olhos...”. A Palavra se tornaria visível, não seria apenas ouvida, mas vista, vista publicamente, privativamente, à distância e na proximi­dade (com todo o uso e exercício que pudésse­mos fazer dos nossos olhos). Nós o vimos em sua vida e ministério, o vimos na sua transfiguração no monte, pendurado, sangrando, morrendo e morto, na cruz, e o vimos depois de seu retorno da sepultura, na sua ressurreição dentre os mortos. Seus apóstolos precisavam ser tanto testemunhas visuais quanto testemunhas auricu­lares. “É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição” (At 1.21,22; ler 2Pe 1.16).

“...o que temos contemplado...”.
Possivelmente, podemos interpretar essa frase dizendo que, aos sentidos internos, aos olhos de sua mente, diferentemente da percepção anterior (vimos com os nosso olhos), pode ser o mesmo com o que o apóstolo diz no seu Evangelho (cap. 1.14): “E vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai”. A palavra não é aplicada ao objeto imediato do olho, mas àquilo que foi racionalmente concluído do que viram. Em outras palavras, ficaria assim: “O que discernimos, contemplamos e vimos bem, o que conhe­cemos bem dessa Palavra da vida, isso relatamos a vocês”.

“...e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”. Isso certamente se refere à plena convicção que o Senhor propiciou aos seus apóstolos acerca da verdade, re­alidade e solidez de seu corpo, depois de sua ressurreição dentre os mortos. Quando Ele mostrou as mãos e seu lado (Jo 20.24-27), é provável que tenha dado a eles a permissão para tocá-lo; pelo menos, Ele sabia da incredulidade de Tomé e sua firmeza declarada em não acreditar até que ti­vesse visto e sentido as marcas dos ferimentos que causa­ram a sua morte. Portanto, na reunião seguinte, Ele cha­mou Tomé, na presença de todos, para satisfazer a sua curi­osidade e descrença. E provavelmente outros apóstolos também fizeram o mesmo. As “...vossas mãos tocaram da Palavra da vida”. A Palavra e a vida invisível não desprezavam o testemunho dos sentidos. Os sentidos, em seu lugar e esfera, são um meio que Deus designou, e o Senhor Jesus Cristo empregou, para nossa informação. Nosso Senhor pro­curou satisfazer (tanto quanto possível) todos os sentidos dos apóstolos, para que pudessem ser as mais autênticas teste­munhas dele no mundo, e isso pode ser confirmado no versículo 3.

“...e testificamos dela, e vos anunciamos [...] O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos...” (vv.2,3). Cabia aos apóstolos expor aos discípulos as evidências pelas quais eram guiados, as razões pelas quais eram constrangidos a propagar a doutrina cristã no mundo. A verdade evidente abriria suas bocas e for­çaria uma confissão pública. “...não podemos deixar de falar o que temos visto e ouvido” (At 4.20).

“...para que também tenhais comunhão conosco...” (v.3). O apóstolo não se refere à comunhão pessoal de associação nas mesmas administrações eclesiásticas, mas comunhão com o céu e bênçãos que vêm de lá e vão para lá. Essa é uma comunhão que pertence a todos os santos, do apóstolo mais importante ao crente mais humilde. Todos estariam desejosos dessa comunhão para reter seguramente a sua fé, que é o meio desse tipo de comunhão, afim de que os apóstolos também auxiliassem os discípulos à chegarem na mesma comunhão com eles, e ela é “com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo”. Temos agora um re­lacionamento tão sobrenatural com Deus e com o Senhor Jesus Cristo, que serve como um penhor e deleite antecipado de nossa permanência eterna com Eles e do nosso prazer ne­les, na glória celestial.

OBS.: Veja para que fim a vida eterna se tornou carne: para que Ele pudesse nos levar à vida eterna em comunhão com o Pai e com Ele mesmo. Veja quão abaixo da dignidade, fi­nalidade e resultado da fé e da instituição cristã estão aqueles que não têm uma comunhão abençoada com o Pai e seu Filho Jesus Cristo.

“Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (v.4). A dispensação do evangelho não é pro­priamente uma dispensação de medo, tristeza e pavor, mas de paz e gozo. O mistério da fé cristã foi planejado diretamente para a alegria dos mor­tais. Deveria produzir alegria em nós o fato de o Filho eterno ter vindo para nos buscar e salvar, ter realizado uma expiação completa pelos nossos pecados, vencido o pecado, a morte e o inferno, e estar' vivo como nosso Intercessor e Advogado diante do Pai e que virá nova­mente para aperfeiçoar e glorificar seus servos perseve­rantes. Crentes deveriam se regozijar em seu alegre relacionamento com Deus, como seus filhos e her­deiros, seus amados e adotados; em seu alegre relacio­namento com o Filho do Pai, sendo membros de seu amado corpo e co-herdeiros com Ele; no perdão dos seus pecados, na santificação de suas naturezas, na adoção de suas pessoas e na expectativa da graça e glória que se­rão reveladas no retorno do céu do seu Senhor e cabeça. Se estivessem aprovados na fé, certamente se alegrari­am muito! “E os discípulos estavam cheios de alegria e do Espírito Santo” (At 13.52).

1. EVIDÊNCIAS QUE CONFIRMAM A AUTORIA DO APÓSTOLO JOÃO

a) Parece que o autor fazia parte do Colégio Apostólico pela confiança sensível e palpável que tinha acerca da verdade da pessoa do Mediador em sua natureza humana: “o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida” (v.1). Ele cita a evidência que o Senhor deu a Tomé de sua ressurreição, ao convidá-lo para tocar as marcas dos pre­gos e da lança, que foi registrada por João (Jo 20.27);

b) E ele deve ter sido um dos discípulos presentes quando o Senhor veio no mesmo dia em que ressuscitou dos mortos e mostrou a eles suas mãos e seu lado (Jo 20.20);

c) Os dois livros harmonizam maravilhosamente em relação aos títulos e características do Redentor: a Pala­vra, a Vida, a Luz; o nome pelo qual se chama é a Palavra de Des. Compare cap. 1.1 e 5.7 com João 1.1 e Apocalipse 12.13;

d) Eles harmonizam na aprovação do amor de Deus a nós (cap. 3.1 e 4.9; Jo 3.16) e quanto à nossa regeneração ou ser nascido de Deus (cap. 3.9; 4.7; e v. 1; Jo 3.5,6);

e) Por último, eles harmonizam na alusão ou uso da passagem no evangelho que re­lata (de maneira única) a saída de água e sangue do lado do Redentor: “Este é aquele que veio por água e sangue” (1Jo 5.6; cf. Jo 19.34). Dessa forma, a epístola parece brotar claramente da mesma pena do autor do quarto evangelho. Ao lermos (João 21.24) o historiador sacro identifica-se da seguinte maneira: “Este é o discípulo que tes­tifica dessas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”. Então, quem é esse discípulo, senão aque­le acerca de quem Pedro perguntou: “Senhor; e deste que será?” E a respeito de quem o Senhor respondeu: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa ti?” (v. 22). E quem (v. 20) é descrito por essas três características:
(1) Que ele é o “... discípulo a quem Jesus amava”, o amigo especial de Jesus (cf. Jo 13.23);
(2) Que ele “...se recostara também sobre o seu peito” (cf. Jo 13.25);
(3) Quem ele disse: “Senhor; quem é que te há de trair?” (cf. Jo 13.25). Tão certo, então, de que esse discípulo de fato era João, a igreja tam­bém pode estar certa de que aquele evangelho e esta epístola vieram do amado apóstolo João.

HENRY, Mathew. Comentário Novo Testamento.

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