quinta-feira, 2 de abril de 2009

Corinto – Uma Igreja Fervorosa, Mas Não Espiritual

* Não perca o subsídio para a Leitura Bíblica em Classe, extraído do Comentário Bíblico Novo Testamento - Matthew Henry, no final deste post.


INTRODUÇÃO


Nessa primeira lição, o comentarista Pr. Antonio Gilberto nos estimula a ler, na íntegra, a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, se quisermos entender a dinâmica da vida de uma igreja.
Não devemos esquecer a frase introdutória: “não existe igreja local perfeita”, pois essa idéia é fundamental para destacarmos que a igreja de Corinto estava se comportando de maneira exagerada e excessiva em muitas áreas doutrinárias, de conduta e pureza, tanto individual como coletiva. Levemos em consideração que “os ensinos doutrinários desta epístola são permanentes e aplicáveis à igreja atual”.

O CONTEXTO DA ÉPOCA

O propósito da epístola


Ao escrever esta epístola, o apóstolo Paulo visava corrigir algumas graves desordens que tinham sido introduzidas durante sua ausência: “...a respeito de vós, irmãos meus, me foi comunicado pelos da família de Cloe que há contendas entre vós.” (1.11). Paulo queria tratar dos sérios problemas encontrados na igreja de Corinto. Ele foi informado de pecados graves que não estava sendo levado a sério e passou então a aconselhar e doutrinar sobre vários assuntos de conduta e pureza, tanto individual como coletivo.

Segundo o comentário da lição, eram três os propósitos: exortá-los, doutriná-los e fundamentar a doutrina da ressurreição de Cristo, corrigindo erros e falsos ensinos, incluindo o arrebatamento da Igreja (a ressurreição em glória dos mortos salvos e a transladação dos vivos para o céu).

Ser crente em Corinto era um desafio

Corinto era uma das principais cidades da Grécia, já era um dos centros comerciais dominantes do mundo desde o oitavo século a.C., produzia todo tipo de luxo. Um lugar tão famoso pela prosperidade, mas também pelos vícios e pela fornicação, de tal maneira que mulher coríntia era uma expressão proverbial para uma prostituta. Com base nisso, não era fácil ser crente em Corinto, pois a prosperidade da cidade contribuía para corromper os bons costumes implantados pelo apóstolo, e muitos cediam à tentação, levados pelo orgulho, avareza, luxo, concupiscência, etc., de forma que alguns manifestavam a luxuria (comportamento desregrado) no seu vestir, em seu comer, até quando estavam à mesa do Senhor. Um caso infame aconteceu com um indivíduo que abusava da mulher do seu pai, como se fosse sua esposa ou para cometer fornicação com ela (1Co 5.1).

Com sabedoria, fidelidade, ternura e autoridade, Paulo censura os irmãos coríntios por causa de suas discórdias, mostrando que o orgulho e a vaidade, a presunção da ciência e da erudição, e a eloqüência dos falsos mestres, contribuíram para a escandalosa divisão na igreja.

Aplicando:

Se naquela época era difícil ser crente fiel a Deus, imagine no mundo em que vivemos? Os prazeres malignos, imorais e pecaminosos do mundo, o espírito de rebelião que nele age contra Deus na presente era. Satanás, que emprega suas idéias mundanas de moralidade, nas filosofias, psicologia, desejos, governos, cultura, educação, ciência, arte, medicina, música, sistemas econômicos, diversões, comunicação de massa, esporte, agricultura, etc, para opor-se a Deus, ao seu povo, à sua Palavra e aos seus padrões de retidão (Mt 16.26; 1Co 2.12; 3.19; Tt 2.12; 1Jo 2.15,16; Tg 4.4; Jo 7.7; 15.18,19; 17.14 ). Atualmente não é necessário sair de casa, pois as infâmias satânicas entram nas casas pelos meios de comunicação, são aceitas e praticadas por alguns que não podem ser chamados de espirituais, mas carnais.


A ESPIRITUALIDADE

A igreja de Corinto era famosa também pela abundância de seus dons espirituais. Paulo disse àquela igreja: “...nenhum dom vos falta” (1.7), e fala especificamente que eles foram enriquecidos em tudo “...em toda a palavra* e em todo o conhecimento**” (1.5). Quando Deus dá esses dons a uma igreja, a doutrina de Cristo é pregada poderosamente e o nome do Senhor é glorificado.
Embora isso fosse verdade entre os crentes coríntios, o apóstolo Paulo diz: “irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.”.

* Dom da Palavra da Sabedoria (12.8). Trata-se de uma mensagem vocal sábia, enunciada mediante a operação sobrenatural do Espírito Santo. Tal mensagem aplica a revelação da Palavra de Deus ou a sabedoria do Espírito Santo a uma situação ou problema específico (At 6.10; 15.13-22).
** Dom da Palavra do Conhecimento (12.8). Trata-se de uma mensagem vocal, inspirada pelo Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito de pessoas, de circunstâncias, ou de verdades bíblicas. Freqüentemente, este dom tem estreito relacionamento com o de profecia (At 5.1-10; 1Co 14.24,25).


O QUE É A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE?

Para responder a essa pergunta detalhadamente, precisaríamos de uma lição específica, mas vamos tentar resumir sem muitas delongas.

Não devemos confundir a vida espiritual com o emocionalismo. Atualmente, se uma igreja é tradicional e não dá gritos de “aleluias e glórias”, é vista como “igreja fria ou carnal”; se for liberal ou barulhenta, com gritos de “aleluias e glórias”, então é igreja “quente ou espiritual”; se um irmão fala “muitas línguas estranhas” ou chora com muita facilidade, então esse é espiritual! Nada disso procede, pois não é assim que se mede a espiritualidade de uma igreja, nem mesmo de um indivíduo em particular. Por esses motivos equivocados, muitos (inocentes, podemos dizer) estão buscando “experiências novas” em outras igrejas, em grupos seletos, ou até em indivíduos que se dizem espirituais, mas na verdade não tem nada de espiritual.

Com base na Bíblia, podemos dizer que o homem é formado de corpo, alma e espírito (1 Ts 5.23). Mas, falando especificamente sobre o espírito do homem, sabemos que ele provém do sopro divino (Gn 2.7; Jó 32.8), ou seja, esse espírito foi criado por Deus dentro do homem (Zc 12.1) e não morre (Ec 12.7). O apóstolo Paulo diz que o “...Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16), deixando claro que o relacionamento fundamental entre o homem e Deus acontece através do espírito do homem.

Quando Adão pecou, ele perdeu o relacionamento com Deus, podemos dizer que ele perdeu sua espiritualidade. Entretanto, Deus preparou um plano para restaurar essa condição do homem: enviou Jesus para reconciliar o homem com Deus, “isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2Co 5.19).

Podemos então dizer que a espiritualidade é um processo gradativo, que inicia quando alguém aceita a dádiva divina, que é a salvação através de Jesus Cristo. Mas, alguns elementos fazem parte desse processo de salvação: (1) o arrependimento (mudança de atitude), o Espírito Santo começa a trabalhar em nossa mente e nos convence “do pecado, e da justiça, e do juízo” (Jo 16.8). (2) daí acontece o novo nascimento, que segundo Pedro somos “...de novo gerados [...] pela Palavra de Deus...” (1Pe 1.23), e Paulo diz que nos tornamos nova criatura (2Co 5.17), portanto passamos a desenvolver dentro de nós a “mente de Cristo” (1Co 2.16), e é o que Jesus chama de “nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5), que se resume nas palavras do apóstolo Paulo: “isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo” (2Co 5.18).

Cabe aqui a palavra do comentarista Antonio Gilberto: “a verdadeira espiritualidade está intimamente relacionada ao exercício da piedade e da vida cristã consagrada (Ef 4.17-32),” então o autêntico servo de Deus (espiritual), é identificado através dos seus frutos, pois o fruto revela a natureza da árvore (Mt 7.18-20). Os dons têm haver com o que fazemos e o caráter com o que somos para Deus.

Como saber se um culto é espiritual?

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” (1Co 14.26). Ou seja, todas as práticas religiosas nos cultos devem ser para a edificação. (conf. 1Co 14.6; 2Co 12.19).

A MISSÃO DISCIPULADORA DA IGREJA

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (Mt 28.19-20)

“Jesus veio a este mundo com o propósito de morrer, e em sua jornada para a cruz dedicou sua vida na formação de alguns discípulos, os quais foram comissionados a proceder da mesma maneira, para que, pelo processo de reprodução, o Evangelho do Reino alcançasse os confins da Terra.”

“Lamentavelmente, poucos entendem o que isso significa, especialmente quando diz respeito ao viver diário. Muitas pessoas em posição de liderança na igreja não têm a menor idéia do que seja ensinar alguém a observar e a guardar tudo o que Jesus ordenou. Nesse sentido, não causa surpresa o fato de tantos crentes não conseguirem ir muito longe em sua peregrinação de fé, nem aprenderem a desenvolver o potencial de seu ministério.”3

Quantidade e qualidade na Igreja

O comentarista faz a comparação entre a igreja de Corinto e a de Éfeso, mostrando que o apóstolo não passou muito tempo em Corinto (1 ano e 6 meses), mas passou três anos em Éfeso (At 20.31), e o resultado é a diferença entre a conduta cristã das duas igrejas.

Milhões de pessoas estão se convertendo e a igreja está crescendo rapidamente, mas a maturidade cristã não acompanha esse crescimento, é totalmente desproporcional. Estão banindo a mensagem da cruz e o discipulado cristão. Estão trocando por um “evangelismo humanista”, mudando a maneira bíblica de apresentar o Evangelho do jeito que Jesus e os apóstolos fizeram. Segundo algumas pesquisas, cerca de 80% a 90% das pessoas que estão se decidindo a Cristo, estão abandonando a fé.

Falsos crentes na igreja

O apóstolo Paulo soube que após sua partida, se introduziu na igreja de Corinto alguns “mestres”, que criaram dissensões (divisões) entre os irmãos (1.10-12). Mas, ele diz aos coríntios que “...ainda que tivésseis dez mil aios em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; porque eu, pelo evangelho, vos gerei em Jesus Cristo” (4.15). Em outras palavras, o apóstolo quer dizer que ainda que eles tivessem outros pedagogos ou instrutores, mas ele era o pai deles. Eles foram feitos cristãos através do ministério de Paulo, pois foi Paulo quem fundou a igreja de Corinto, e qualquer que fossem os outros professores que eles tivessem, Paulo era seu pai espiritual. Foi ele quem os tirou da idolatria pagã para a fé do evangelho e à adoração do Deus vivo e verdadeiro. Por isso ele admoesta aos coríntios que sejam seus imitadores (4.16), “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo” (11.1).

Temos que tomar muito cuidado, ao nos referirmos aos falsos crentes. Pois, infelizmente, muitos assumem a posição de juiz e começam a julgar quem são os verdadeiros e os falsos, colocando-os no céu ou no inferno, desconsiderando que essa função é exclusivamente de Deus. Jesus mostrou na parábola do joio e do trigo (Mt 13.31-35), que apenas o ceifeiro é quem entende de colheita.

OBS.: Quando se trata de alguns que querendo ser mestres, doutores, líder, etc., e alcança a posição desejada, começam a espalhar falsos ensinamentos, conduzindo os irmãos a um evangelho diferente, com uma falsa unção, esses tais devem ser notados. O apóstolo Paulo diz que “...até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1Co 11.19), também Pedro prediz que entre nós haveriam falsos doutores, “...que introduzirão encobertamente heresias de perdição...” (1Pe 2.1). Não devemos nos associar com os “que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais” (1Co 5.11).

CONCLUSÃO

Aproveito a conclusão, cito a passagem de Atos 4.36-37; 5.1-11, onde José um levita denominado de Barnabé (Filho da Consolação), vendeu sua herdade e trouxe o preço aos pés dos apóstolos (um bom exemplo de espiritualidade); Mas um “irmão” chamado Ananias e sua esposa Safira, provavelmente querendo imitar o irmão Barnabé, também venderam sua herdade, e tentaram fazer um jeitinho (típico dos falsos cristãos), para reter parte do preço da propriedade, mentindo aos apóstolos, pensando que ninguém sabia. Pagaram um alto preço (com a própria vida) e se tornaram um mau exemplo de espiritualidade. Imagine se hoje fosse assim, seria tanto crente expirando (morrendo), por causa da falsa espiritualidade...


SUBSÍDIO PARA A LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Nesse capítulo, o apóstolo censura os coríntios por sua carnalidade e divisões; os instrui sobre como o que estava errado entre eles podia ser reparado, lembrando que os ministros não eram mais que ministros (v. 5).

O apóstolo lhes diz que “não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (v. 1). Eles estavam tão longe da realidade do Evangelho, que se tornou muito evidente que eles estavam sobre o controle das inclinações corruptas e carnais. Eles ainda eram meros bebês em Cristo (v.2). Eles haviam recebido alguns dos primeiros princípios do cristianismo, mas não haviam crescido até a maturidade de entendimento neles, ou de fé e de santidade; e ainda esta claro, por diversas passagens nesta epístola, que os coríntios eram muito orgulhosos de sua sabedoria e conhecimento.

“porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?” (v.3). Eles mantinham rivalidades e rixas e facções entre eles, por conta de seus ministros “porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; de outro: Eu, de Apolo; porventura, não sois carnais?” (v. 4). Essas são provas de que eram carnais, que inclinações e interesses carnais os controlavam. Note que rivalidades e rixas sobre a religião são tristes evidências de carnalidade remanescente. A verdadeira religião torna os homens pacíficos e não contenciosos. Os espíritos de divisão atuam com base nos princípios humanos, não nos princípios da religião verdadeira; eles são guiados por seu próprio orgulho e paixões, e não pelas regras do cristianismo. Andam realmente como homens comuns, e vivem e se comportam exatamente como os outros homens.

“Pois quem é Paulo e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?” (v. 5). Eles são ministros, meros instrumentos usados pelo Deus de toda a graça. Parece que algumas pessoas que causavam divisão em Corinto haviam feito mais adeptos, como se elas fossem senhoras de sua fé, autoras de sua religião. Devemos tomar cuidado para não deificar ministros, não colocá-los no lugar de Deus. Os apóstolos não eram autores da nossa fé e religião, embora eles fossem autorizados e qualificados para revelá-la.

“Eu plantei, Apolo regou...” (v.6). Ambos eram úteis, cada um para uma finalidade. Note que Deus faz uso de uma variedade de instrumentos e os prepara para seus diversos usos e intenções. Paulo foi preparado para o trabalho de plantar, e Apolo para o trabalho de regar, mas “mas Deus deu o crescimento”, nisso o sucesso do ministro deve derivar da benção divina: “pelo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (v. 7). Até os ministros apostólicos não são nada de si mesmos, não podem fazer nada com eficácia e sucesso a menos que Deus dê o crescimento. Os ministros mais fiéis e mais bem qualificados têm exatamente uma compreensão apropriada de sua insuficiência e são muito desejosos de que Deus deva ter toda a glória de seu sucesso. Paulo e Apolo não são nada em seu próprio valor, mas Deus é tudo em todos.

“Ora, o que planta e o que rega são um” (v.8). são empregados pelo Mestre, encarregados da mesma revelação, ocupados de um trabalho e engajados em um plano – em harmonia um com o outro, porém, eles podem ser colocados em oposição um com o outro por provocadores de partidos facciosos. Eles têm seus diferentes dons que vêm do único e mesmo Espírito, para os mesmos propósitos; e eles possuem de coração o mesmo intento. Os que plantam e os que regam são companheiros de trabalho na mesma obra. Eles podem ter diferenças de sentimentos em coisas menores; eles podem ter seus debates e controvérsias; mas eles concordam de coração no grande plano de honrar a Deus e salvar almas, promovendo o cristianismo verdadeiro no mundo. Aqueles que foram mais fiéis terão o maior galardão; este é o trabalho glorioso em que todos os ministros fiéis estão ocupados.

“Porque nós somos cooperadores de Deus...” (v.9a). Ou seja, companheiros de trabalho, na verdade não na mesma ordem e grau, mas submissos a Ele, como instrumentos em suas mãos. Eles estão engajados na mesma ocupação. Eles estão trabalhando juntos com Deus, promovendo os propósitos de sua glória e a salvação de almas preciosas; e aquele que conhece o trabalho deles cuidará para que eles não trabalhem em vão.

“...Vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.” (v.9b). Portanto, nada é de Paulo ou de Apolo; nada pertence a um ou a outro, mas a Deus: eles somente vos plantam ou regam, mas é a bênção divina sobre sua própria lavoura que sozinha pode fazê-la frutificar.

Bíblia de Estudo Pentecostal – CPAD
Comentário Bíblico Novo Testamento – Matthew Henry
3 A Arte perdida de fazer discípulos - LeRoy Eims

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